domingo, 18 de julho de 2010

Reino Cosmogônico

Dedico este livro a todas as pessoas analfabetas

e ignorantes que tem boas ideias e

conseguem transformá-las em

realidade graças à sua

força de vontade e

à ajuda de seus

amigos.


No fim de uma era, marcada por revoltas, guerras, pensamentos filosóficos e sede de poder, nascem dois seres em um planeta que pertence à Via Láctea.

Um desses seres, do sexo masculino, foi denominado João de Não-Sei-O-Que-Lá. João, em seu nascimento, já bebeu do cálice do repúdio. Nasceu de um ventre que não o queria. Em sua infância pobre, João começa a desenhar sua própria história, estudando e trabalhando para se sustentar e ajudar sua família nas despesas de casa.

Nos finais de semana, joga bola. Acha que é o rei do futebol ao marcar um gol. Para ter acesso a cultura e diversão, João vai às ruas trabalhar. Sai de sua humilde casa no campo levando uma caixa de engraxate. Às vezes, vai de porta em porta oferecendo coisas curiosas, como bucho entre as mãos.

Casos engraçados e desconcertantes acontecem com João nessa fase de sua vida. Um deles o deixou tão vermelho que ele parecia que ia explodir: em uma de suas idas ao cinema, troca olhares com uma bela menina de olhos negros e sobrancelhas reluzentes. Fica olhando onde ela vai sentar e se direciona para abordá-la com todo seu amor.

Ao longo do filme, João se sente realizado ao pegar a mão de sua amada. Acaba a sessão e eles trocam carícias pela praça. No dia seguinte, João é ordenado pela sua mãe a vender bucho na rua. João não gostava, pois seus braços fediam para o resto da semana. Mas, apesar de tudo, João foi às ruas a cantarolar, já que a única coisa que passava em sua mente era o lindo rosto da menina de olhos negros e sobrancelhas reluzentes.

Naquele dia chuvoso e improdutivo, João não consegue vender um bucho sequer. No entanto, não desiste, pois sabe que se voltar com todos eles, sua mãe o espancará com aquele tamanco.

Nisso, João toca a campainha de uma bela casa. Quem abre a porta? A menina de olhos negros e sobrancelhas reluzentes. João não consegue dizer uma só palavra e começa a ficar vermelho como um dragão. Dispara a correr com lágrimas nos olhos e nunca mais a vê.

E nessa mesma cidade, que em outras eras foi habitada por índios, nasce Rita de Árvore. Rita, em sua infância de miséria e muitas responsabilidades, perde sua mãe. Muito cedo, carrega em seus ombros um pai insano e mais dois irmãos para alimentar.

Trabalha duro em locais sem a mínima estrutura. Seu cheiro, que deveria ser de um perfume a dar inveja a todas as flores, agora é dos restos de alimento que não servem mais para o consumo humano.

Rita também tem casos engraçados e desconcertantes, como quando, um belo dia, consegue juntar dinheiro para ir ao dentista. A dor de dente a aflige terrivelmente, pois toma remédios e não tem dinheiro nem para comprar pasta de dente.

O dentista simplesmente se recusou a atendê-la, alegando que seu odor o impediria de fazer seu trabalho. Rita volta para casa com os olhos lacrimejando, mas com a cabeça erguida e sem derramar uma lágrima sequer nesse dia.

Rita e João estudam na mesma escola. João e José fazem uma aposta para ver quem seria capaz de namorar a Rita. Rita, com todos os seus defeitos, era uma mulher linda, muito cobiçada em sua juventude. João ganha a aposta e se casa com Rita, descobrindo nela sua cara metade.

Juntos, prosperam. Para eles, essa união seria capaz de causar até tempestades. Tentam todas as noites ter um filho, que nunca vem. Por que trazer do reino dos céus um príncipe para essa terra condenada a infertilidade por causa da hipocrisia que se apoderou dos homo sapiens?

Esse príncipe vive em um lugar iluminado, suas vestes são brancas como a luz e seu corpo, imaculado. Convive com as ninfas mais belas e amigos com almas alegres. Passeia no bosque de cores néon.

Num belo dia, esse príncipe encontra em sua dimensão um ser, denominado na Terra como Jesus, e vai ter com Ele, para acariciá-lo e gozar de sua glória onipotente. Mas, ao se aproximar, Jesus atravessa uma pilastra e se mostra na forma de um cachorro.

Ainda em sua dimensão, o príncipe consegue ver a luz do divino em todos os animais e seres. É convidado por seus amigos a conhecer o planeta Terra. Ele olha para um lado e vê lindas donzelas sorrindo, olha para o outro e não vê mais seus amigos.

Invade em seu ser uma solidão e um chamado que o impele a descer para o reino da Terra. Correndo desesperadamente para descer junto com seus amigos, pula a mureta da escada que dá acesso ao planeta, e cai em cima deles, fazendo com que todos desabem juntos, entrelaçados e desordenados, e sem preencher a papelada necessária para o ingresso à Terra.

Depois de anos de muitas tentativas frustradas, Rita, através de seu sobrinho, tem a notícia de que está grávida. Ele toca na sua barriga e diz:

- Tem neném ai!

Rita vai ao laboratório e confirma a novidade. Rita e João brindam à vinda do novo ser. Exclama João:

- O príncipe está vindo!

Durante sua gestação, Rita se enche de glória e leite. Tamanha é a quantidade que parece que vai transbordar. Dessa forma, ela é capaz de alimentar outros seres recém chegados aqui, com a sua abundância de essência materna.

Em seu parto, o príncipe se mostra na figura masculina, enchendo de alegria o peito de João. Como o casal prospera financeiramente, sua infância é repleta de cultura e brinquedos. Ainda teve a sorte de ter muitos primos e irmãos na mesma faixa etária.

Quando jovem, tem um terreno fértil onde planta a semente do estudo. Paquera as meninas na praça depois do fim do culto dominical. Passa no vestibular e se forma com congratulações. Conhece uma linda donzela em uma passeata política, reivindicando melhor distribuição de renda. Assim como ele, não suporta olhar um mendigo na rua, sem perspectiva de vida, enquanto burgueses passeiam em suas espaçonaves do ano.

Casa-se com sua amada princesa e constitui família em um alicerce sólido, baseado em respeito, amor e honestidade. Nascem seus filhos, gêmeos, um do sexo masculino e outro do sexo feminino. Suas vidas prosperam como nunca, já têm carro e apartamento. Seus filhos estudam Inglês e frequentam escolas particulares.

Tudo vai bem, até que um rapaz cai morto ao seu lado!!! Seu amigo Bigode, com quem estava junto a trabalho, também ficou chocado. Logo apareceu a polícia, que por acaso estava de ronda ali perto da cena do crime, com muitas perguntas:

- O que vocês estão fazendo aqui?

- Apenas pesquisas.

- Ah, tá! Cês subiram o morro pra fazer pesquisa... Hahahaha. Cês tão achando que nós somos idiotas? Vieram aqui buscar droga, porra! E agora tão encrencados!

Nada será como antes na vida do príncipe. Agora sua rotina é frequentar fóruns e audiências, cartórios e escritórios de advocacia. Quando coloca a cabeça no travesseiro, lembra que sua vida era um sonho, tudo que ele desejava na vida, tinha conquistado. E o que será de sua mulher e filhos, tendo um pai com caráter duvidoso?

Na primeira audiência, Bigode foi inocentado, pois tinha conchavo com a polícia.

O tempo passa e cada vez mais o príncipe está enrolado. Não há testemunhas e ele era o único suspeito na cena do crime.

Em uma manhã primaveril, o príncipe decide largar tudo e sair pelo mundo, livre de qualquer coisa que o impeça de chegar na próxima cidade. Tem seu chapéu como companheiro, colocado de lado e para baixo, de modo que ninguém seja capaz de ver seu olhar misterioso.

A viagem


O primeiro lugar que vem a sua mente é Andrômeda, o ponto mais longínquo do qual já ouvira falar. Pegou sua mochila e colocou nela somente o necessário. Comprou uma passagem e foi direto ao seu primeiro destino.

Quem ele encontra lá? Friedrich Nietzsche, que lhe diz o seguinte:

“Então, por ocasião do evangelho da harmonia mundial, cada qual se sente com o seu próximo, não somente unido, reconciliado, fundido mas uno, como se o véu da maia tivesse sido partido e somente ainda revoluteasse ante o misterioso Uno-Primitivo. Cantando e dançando se externa o homem como membro de uma comunidade elevada. Ele esqueceu o andar e o falar e está em caminho de, dançando, elevar-se nos ares. Seus movimentos manifestam encantamento. Assim como agora falam os amigos animais e a terra produz leite e mel, também dele soa algo sobrenatural. Ele se sente um deus, vagueia ele mesmo agora tão extasiado e excelso como, em seus sonhos, via vagar os deuses. O homem não é mais artista, é obra de arte; a potência artística da natureza inteira, para a máxima satisfação do Uno-Primitivo, aqui se externa sob os estremecimentos da embriaguez.”

Ouvindo isso, o príncipe é arrebatado por uma força sobre-humana, que o transporta para fora de seu corpo físico e lhe concede o direito de viajar pelo espaço. Suas viagens cósmicas não permitem narrativas através do seu vasto vocabulário e, sim, percepções muito mais claras de onde está vivendo. Consegue apenas narrar que tudo começou quando as palavras entraram em seu ouvido em forma de música.

- Como é possível algumas palavras transformadas em melodia me transportarem pelos mundos? - pensa o príncipe.

Agora, passando pela cidade chamada Marte, se depara com muitas pessoas distintas e lá percebe que todas parecem lâmpadas apagadas, faltando para elas apenas achar o interruptor e apertar o botão. Mas, cegas na escuridão, não conseguem encontrar o caminho e não estão se dedicando a isso.

E é em Marte que conhece Platão, que diz que mora em uma caverna e o convida para passar uma noite lá.

Como está sem dinheiro para o camping, resolve aceitar sua proposta. Na caverna Platão lhe fala sobre uma luz que faz as pessoas verem apenas as sombras, e não a verdade como ela realmente é. Ele fala isso para as pessoas da cidade e recebe em troca risos e ofensas, todos questionam sua sanidade.

O príncipe continua sua viagem, mas com a luz de Platão sempre em seu horizonte.

Agora se encontra em Júpiter, onde conhece Hegel, que lhe fala sobre teorias de SENHOR e ESCRAVO. Homens de pés descalços que servem homens com pés embalados.

Lembra de sua doce princesa.

- Como deve estar meu amor agora?

Sente que neste caminho consegue ajudar os oprimidos pelo sistema de uma forma mais eficaz. Apenas um pequeno gesto sutil de amor com essas pessoas seria capaz de lhes arrancar sorrisos tão lindos quanto o desabrochar de uma flor. Suas aventuras não tinham mais fim, em cada cidade por onde passava conhecia novos livros, novas pessoas, novas culturas, novas línguas, novas filosofias.

Em sua mente não passa mais nada a respeito de juízes, protocolos e horários, muito menos adquirir um relógio suíço. As únicas lembranças que lhe restam de antes da viagem são de dormir abraçado com sua mulher, acordar vendo seus lindos traços faciais, que tinham contornos divinos, e o beijo doce dado em seus filhos antes de irem para escola.

Mas é na cidade de Saturno que conhece um velho ancião que disponibiliza um chalé mato adentro no alto da serra, onde ele poderia se abrigar e passar uns tempos.


O chalé


Entra no chalé e, rapidamente, percebe fotos de seus ídolos dependuradas na parede, dentre elas a de seu morador ilustre: Kid-Fícil. Não encontra livros, mas histórias em quadrinhos, muitos personagens líricos. Suas páginas transbordam glória e tragédia, com um cheiro parecido com sangue. Também encontra vinis dos anos 60. Seus ouvidos dançam uma sinfonia psicodélica e convidam todos os outros órgãos a dançar. Abrindo portas e janelas para circular o ar, descobre um compartimento secreto onde se encontram livros e artefatos de magia.

E é nos LIVROS DE THELEMA, cujo autor não atribui a obra a si próprio, mas, sim, a um ser iluminado, que o príncipe é tocado na parte mais profunda de seu ser. Ele se lembra apenas de algumas partes:

13. Eu me lancei, do precipício do ser.

14. Até o abismo, aniquilação.

15. Um fim para a solidão, como para tudo.

16. Pan! Pan! Io Pan! Io Pan!

33. Não caias na morte, ó minha alma! Pensa que a morte é a cama na qual tu estás caindo!

41. O que Tu serás, meu Deus, quando eu tiver cessado de te amar?

51. Tu queres infringir a punição do prazer – Agora! Agora! Agora!

55. Eu gritei alto a palavra e ela era um poderoso feitiço para atar o invisível, um encantamento para desatar o atado; sim, para desatar o atado.

2. Aquilo que veio de Ti como fogo, vem como água de mim; portanto, que Teu espírito se apodere de mim, para que minha mão direita afrouxe o relâmpago.

12. Vinho brota de seus negros mamilos.

16. Eu tinha uma coroa de espinhos como todo o meu dote.

21. Dançai, dançai para o senhor nosso Deus!

24. Por quê? Por quê? Chegam os risos repentinos de um milhão de diabinhos do inferno.

25. E a risada corre.

26. Mas não faz adoecer o universo; mas não sacode as estrelas.

27. Deus! Como eu te amo!

28. Eu estou passeando em um asilo; todos os homens e mulheres à minha volta são insanos.

29. Ó loucura! Loucura! Loucura! Desejável és tu!

30. Mas eu te amo, ó Deus!

33. Pensa, ó Deus, como eu sou feliz em Teu amor.

41. A verdadeira alma está bêbada.

42. Tu estás bêbado, ó meu Deus, de meus beijos.

50. Vem para mim, agora! Eu te amo! Eu te amo!

51. Ó meu querido, meu querido beija-me!

58. As abelhas colheram um novo mel; os poetas entoarão uma nova canção.

6. Mais fundo, sempre mais fundo. Eu caio, assim como o universo inteiro despenca pelo abismo dos anos.

O príncipe, embriagado com essas palavras, coloca-se em seu centro de poder. Enxerga todas as esferas luminosas de seu corpo e as expande de tal forma que todas as cidades a seu redor não têm mais enfermos. Nesse estado, tudo que sai de sua boca são poemas sutis, apoiados pelo diafragma e pronunciados por cordas vocais.

E agora, o príncipe se arrisca em versos:

“Eu morrerei e não deixarei nada escrito,

Apenas os passarinhos serão prova do que eu disse.

Não precisa de aparelho ou tinteiro,

Tudo sobre o amor será dito”.

- O que fazer de minha vida agora? - pensou o príncipe.

De repente, ele é sugado por uma força que o coloca no meio do furacão chamado caos primordial. Nesse lugar, o príncipe encontra o 1 e o 0, mas não consegue ver diferença entre eles. Todas as suas vertentes lhe são mostradas. Quando volta ao chalé, enxerga o 1 e o 0 em todas as coisas, em todos os seus medos e fantasmas. Não existe mais nada que o faça temer.

Aquela noite seria a mais sublime, sentiria o maior prazer até em morrer nos braços da serra. Acordado, o príncipe decide fazer uma oração e penetra em seu peito o Divino, fazendo de sua carne a carne do Divino também, que lhe transmite muitas sabedorias.

A que o príncipe achou mais relevante foi trazer o reino dos céus para a Terra. Pronto! Estava tudo resolvido: o príncipe havia traçado seu destino.

Vai à cidade difundir suas ideias. A essa altura ele não era mais o príncipe de antigamente. Via sem névoas os mendigos e prostitutas, eles eram como seus verdadeiros irmãos.

Uns lhe pediam canções, outros lhe pediam poemas, outros lhe pediam carícias e, por fim, havia aqueles que lhe pediam a cura de todos os seus males. Apesar disso, o que sempre lhe restava era o amor.

Volta para ter sua noite sublime no chalé, quando se põe a questionar:

- Será que posso ver os espíritos da floresta? Será que eles conseguem me ver?

Nisso, ele resolve acender uma vela. Pinga a primeira gota de cera quente na mesa, que vai do estado líquido para o sólido. Erra a segunda. A terceira cai rapidamente com a quarta, quinta... nona. Em contato com a primeira, elas a derretem. E todas as gotas, antes separadas, agora são apenas uma, no mesmo estado, líquido.

Para o príncipe, estava resolvida a equação do amor:

“O amor é um estado de fluidez que condiciona o ser, e quanto mais seres nesse estado, unidos e direcionados, mais fácil seria transformar tudo em amor”.

Ao se render completamente ao amor, o corpo físico do príncipe se transforma em luz e é atraído magneticamente para dentro de uma luz inimaginavelmente monstruosa.



Agradecimentos


Deus

Jesus Cristo

Santíssima Trindade

Felipe Xavier Neto

Renata Nóbrega

Vitor Alencar Gonzaga

Guto

Tadeu o “KID-FICIL”

Dindinha

Rita de Cassia O. Neto

João Batista Neto

Carlos Alberto Neto

João, Claudia e Vovó

Mendigo de Cassimiro

Vinho tinto

Cigarros

Fogo, Terra, Água e Ar

Cosmos

Layana Lösse

Hegel, Nietzsche, Platão e Crowley



Para entrar em contato comigo, é só mandar um e-mail para higoron@hotmail.com


4 comentários:

  1. bela repgnacia sede de poder naçao nao pode ser considerada vil entao façamos honje o melhor que a peça sede nao, a nada que nao possamos fazer juntos em nome do crucificado vem comigo pra diverçao neu amigo ;SERAMONH GUINE'!!!

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  2. hoje e neu aniversario 27 nasprefiro 11!!!

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  3. contrarias horas nao façamos nada ataquemos com os instrumentos 11!!

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  4. Higor,a Literatura move você,você tem ideias bastante particulares,não sei explicar aqui a junção de textos qu ve fez transformando-o em único,mas eu adorei!

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